O Uno não é um. E fomos acostumados a compreender que existem ao menos duas formas fundamentais e divergentes de entender essa negação.
1. O Uno pode não ser um, pois o Dois não é, o que há é uma pura Unidade que não pode ser contada como Um em relação a um Dois. Dessa Unidade pode provir uma multiplicidade inteligível, porém, essa multiplicidade não é nada mais que a polimorfia dessa Unidade. (Shankara? Plotino?)
2. O Uno pode não ser um pois não há Um e nem Dois, nem não-Um e nem não-Dois, muito menos a Unidade. O que há (em um sentido absolutamente relativo de "haver") é uma multiplicidade de epifenômenos em uma cadeia infinita de relações sem lastro e nem fundamento, o Uno é vazio pois o Dois é co-originado. (Nagarjuna? Deleuze?)
Essas duas formas divergentes de entender que o "Uno não é um" partem do pressuposto que o "Dois não é", por consequência ou o Uno é supraeminentemente ou ele supraeminentemente não é (e aqui não há espaço para um trilema).
Mas e se deslocarmos os termos ao afirmar que o "Uno não é" primariamente e não como consequência que o "Dois não é"? O Não-dualismo busca superar a diáda monismo-dualismo a partir do Dois, porém é possível também conceber um outro modo de superação ainda pouco explorado, que podemos apelidar de "Não-monismo". Daí se seguem ao menos duas posições divergentes:
1. O Uno não pode ser um, pois a Unidade não é nada mais que o princípio formal do que é um. A singularidade de cada coisa é nada mais que o seu dado existencial primário, mas não uma existência, seja de modo supraeminentemente ou não. (Edward Butler?)
2. O Uno não pode ser um, pois a Unidade é nada mais que uma delimitação contingente realizada sobre o corpo de uma multiplicidade indefinida, a qual precede tanto a relação como a substância. (Alain Badiou?)
O que pode se seguir daqui? Quais são as posições intermediárias possíveis? Como esses modelos podem ser mobilizados? Ainda estamos no início de tudo isso.
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